segunda-feira, 25 de maio de 2015

A autorrevelação é a cola dos relacionamentos

A palavra composta “autorrevelar” é usada aqui para nomear as revelações de pensamentos e sentimentos do revelador. Por exemplo, ela é usada para nomear as revelações de sensações, opiniões, emoções, aspirações, frustrações e acontecimentos importantes que ocorreram ou estão ocorrendo com quem está fazendo autorrevelações.
Deixar de se abrir, não falar das tensões, dos acontecimentos do dia a dia que estão lhe afetando, dos seus desejos, temores, satisfações e insatisfações é alienar o parceiro daquilo que existe de mais profundo e verdadeiro em você .
É apresentar para o parceiro uma versão pasteurizada e superficial de si e do que se passa consigo.
Não acolher, não ficar motivado para ouvir e acolher as revelações do parceiro é ter perdido o interesse no que existe de mais vivo nele. É menosprezar a sua vida interna, é achar que já sabe tudo a seu respeito e que o que ele vai dizer são repetições daquilo que ele já vem dizendo.

Consequências da autorrevelação para a saúde física e psicológica

Os principais benefícios das autorrevelações para a saúde física e psicológica são os seguintes:

Melhora ou preserva a saúde física e mental

            A autorrevelação tem efeitos na saúde física e mental. Pesquisas mostraram que quem autorrevela adequadamente é mais feliz, adaptado, competente, receptivo, extrovertido, confiável e positivo do que aquelas pessoas que autorrevelam insuficientemente. Pesquisas também mostraram que a autorrevelação previne a incidência de doenças orgânicas e, quando elas acontecem, a recuperação é mais rápida (por exemplo, as pessoas que autorrevelam ficam muito menos dias no hospital do que aquelas que não se autorrevelam).

Tem efeito catártico

Quando um acontecimento nos afeta profundamente, positiva ou negativamente, sentimos a necessidade de falar a seu respeito com um interlocutor adequado e receptivo. Quando conversamos a respeito de sentimentos ou pensamentos que nos atormentam e somos ouvidos com respeito e compreensão, sentimos um grande alívio.
Tudo que precisamos é alguém que tenha as qualificações para ouvir o que temos a dizer, que nos queira ouvir e que dê uma dica como, por exemplo: “O que se passa? Você parece ...... (preocupado, alegre, triste, etc.). Conte-me o que está acontecendo”.
No meu trabalho clínico já presenciei inúmeras vezes o alívio que os pacientes sentem quando expressam algo que estavam escondendo, se envergonhavam ou temiam a condenação do interlocutor.
Este alívio acontece principalmente quando peço para eles expressarem para uma almofada, ou para mim mesmo, que fazemos o papel da pessoa para quem eles gostariam de dizer alguma coisa, mas que, na vida real, sentem inibição para tal pessoa.

Aumenta o autoconhecimento

            Revelar aumenta o autoconhecimento à respeito da relação entre as ideias, emoções, opiniões que está sentindo com aquilo que as provocou e com as reações alheias. Ao autorrevelar a pessoa tem que observar-se para relatar. Quem relata também tem que organizar o que está relatando para apresentar uma versão compreensível para o interlocutor. 
O interlocutor também pode contribuir para o autoconhecimento de quem revela. Quando você se revela para um bom interlocutor, ele fará intervenções que ajudarão você a explorar mais detalhadamente aquilo que está sentindo e pensando. Ele poderá resumir, fazer perguntas e sugerir alguma hipóteses que a ajudarão quem se revela a ganhar conhecimento sobre o que está sentindo e pensando e sobre suas possíveis causas e ligações com outros fatos. 

Melhora a autoestima

A autorrevelação bem acolhida pelo interlocutor ajuda quem revela a gostar mais de si próprio.
Ser aceito do jeito que somos é uma grande satisfação, é um grande trunfo. Ter que simular para ser aceito ou, pelo menos, para não ofender/ser rejeitado pode ser danoso. Muito do que somos tem a ver com o que pensamos e sentimos e que revelamos através da comunicação.
Uma das coisas mais motivadoras ou desmotivadoras da comunicação é a reação do interlocutor. Esta reação é motivadora quando ele nos aprova, se envolver com a nossa conversa, apresenta sinais que está gostando, ri, mostra admiração, mostra empatia.

A autorrevelação produz consequências positivas para o relacionamento

A autorrevelação produz vários efeitos positivos para o relacionamento. Alguns desses efeitos são os seguintes:

A autorrevelação funciona como cola dos relacionamentos

A autorrevelação é uma das principais “colas” dos relacionamentos. Trocar autorrevelações aumenta as chances de aprofundar ou mudar o tipo de relacionamento (por exemplo, revelar o amor pelo interlocutor pode transformar uma amizade em namoro). Isso acontece principalmente com revelações especiais, que exigem um bom grau de confiança ou um tipo especial de relacionamento para que possam ser apresentadas.
Ao revelar-se, você cria a oportunidade para aperfeiçoar aquilo que está sentindo e pensando sobre seu interlocutor e dá a mesma oportunidade para que este também aperfeiçoe seus pensamentos e sentimentos à seu respeito. A autorrevelação dá a oportunidade para que você e seu interlocutor melhorem o relacionamento que existe entre vocês: cada um de vocês informa ao outro como é, como se sente, o que pensa e o que espera que aconteça.

A autorrevelação ajuda a estabelecer, aprofundar e manter a amizade.

Cada tipo de relacionamento dá direito a certos tipos de informação que devem ser fornecidas pelo parceiro. Por exemplo, quando deixamos de falar sobre algo importante que está acontecendo conosco para um amigo, ele pode ficar muito ressentido e até terminar a amizade – de certa forma, a relação de amizade pressupõe que os amigos fornecerão espontaneamente certos tipos de informação.
A autorrevelação é uma maneira de aprofundar os vínculos. Todo mundo sabe que quando alguém começa a falar mais de si, isto significa que o relacionamento está se tornando mais próximo, mais amigável, mais pessoal. É um sinal que a pessoa que está aumentando suas revelações está querendo um maior nível de proximidade.
Só é possível haver relacionamento intimo entre duas pessoas se elas  se conhecerem, confiarem uma na outra, se aceitarem mutuamente, gostarem uma da outra e  ajudarem uma à outra. O conhecimento mútuo é desenvolvido principalmente através da autorrevelação.

A autorrevelação estimula o amor

Faz com que o relacionamento aconteça em bases verdadeiras. Quando temos algo importante para falar com alguém, mas não o fazemos a conversa fica sem energia.
Compartilhar a intimidade é uma das três bases do amor e da amizade (Sternberg). Você tende a se ligar mais fortemente àquelas pessoas que lhe ajudam a sentir-se melhor com o que está sendo e pensando.

A autorrevelação estimula a conversa

Dois dos principais tipos de autorrevelações que estimulam as conversas são as informações gratuitas (informações apresentadas sem que fossem solicitadas pelo interlocutor) e os feedbacks para a comunicação do interlocutor (dizer o que sente e pensa sobre aquilo que o interlocutor comunicou).
Segundo Tucker-Ladd, um importante estudioso das autorrevelações:
- Se a sua conversa é superficial por hábito (não por medo), faça um esforço para encontrar experiências superficiais, opiniões e sentimentos para discutir
- Quando os interlocutores não revelam as suas opiniões pessoais sobre o que está sendo dito, a conversa fica técnica ou cheia de lugares comuns  (“em cima do muro”).
- Quando as pessoas que revelam suas posições ou, pelo menos, dão esta impressão, desenvolvem uma conversa personalizada.
- Revelar coisas positivas ajuda a aprofundar o relacionamento. Indica que a pessoa está confiando, querendo impressionar positivamente e ser conhecida.

A transparência total é desastrosa

A pretensão de ser totalmente transparente, do tipo “A minha vida é um livro aberto”, é ingênua e insustentável. Vários filmes já abordaram este tema. Por exemplo, há uns vinte anos atrás, fez muito sucesso o filme “Um Dia, um Gato”,do diretor tcheco-eslovaco Wojtech Jasny . Este filme conta uma história sobre a aparição em uma aldeia tcheca de um mágico e seu gato, que usava óculos. Quando o gato tirava os óculos, os olhos das pessoas que o viam ficavam de uma determinada cor que revelava aquilo que sentiam. É fácil imaginar as tremendas encrencas que isso causou na aldeia!
Outro filme mais recente, que também trata deste assunto, é “O Mentiroso”, estrelado pelo Jimmy Carrey. Este filme conta a história de um advogado que recebeu um encantamento que fez com que ele, durante um dia, não conseguisse mentir e só dissesse o que realmente estava sentindo e pensando.
Esses dois filmes apontam alguns dos desastres que aconteceriam caso as pessoas realmente revelassem tudo o que sentem e pensam.
Pessoas que revelam demais:
- São consideradas inadequadas
- Deixam o interlocutor desconfortável
- Correm mais riscos. Podem sofrer sanções.
Problemas para autorrevelar ou para acolher revelações? Procure a ajuda de um psicólogo.
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Por Ailton Amélio às 12h25

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